quarta-feira, 20 de julho de 2011

"O Beijo das Sombras" (Richelle Mead)

Oi amigos! Já estava com saudades de compartilhar com vocês minhas leituras, mas minha Net decidiu me deixar na mão. Agora posso retomar finalmente minhas postagens! E sigo com uma série que considero uma das mais inteligentes, Academia de Vampiros. Hoje vou postar O Beijo das Sombras, e amanhã o Aura Negra. Divirtam-se!



Esta é, com certeza, a melhor saga de vampiros já lançada no mercado editorial. Mesmo não sendo tão badalada quanto a série Crepúsculo, por exemplo, é de longe a mais inteligente, criativa, irônica e sombria. A trama é bem estruturada, os eventos perfeitamente encadeados, o suspense crescente desde as primeiras páginas, a escrita fluente e saborosa.

Ao contrário da maior parte das protagonistas de histórias de vampiros e anjos, Rose Hathaway não é exatamente o protótipo da heroína; nem mesmo a doce e angelical Lissa Dragomir preenche completamente os requisitos da mocinha frágil e sem defesas. O mesmo vale para os demais personagens, que a qualquer momento podem surpreender o leitor, apesar das aparências.

Ao entrar, dei de cara com o poder da realeza em ação. Alguns garotos – junto com certas meninas que olhavam e davam risadinhas – estavam perturbando um garoto Moroi alto, magro demais e bastante desajeitado. (...) sabia que ele era pobre e com certeza não era da realeza. (...)
Meus instintos me impulsionaram a fazer alguma coisa, talvez dar um soco num dos manipuladores de ar. Mas eu não podia arrumar briga com todos que me incomodassem, e com um grupo real é que eu não podia mesmo. (...)
Antes de chegar lá, porém, a mão de alguém me pegou pelo braço. Jesse.
- Epa! – disse eu, brincando. (...) Não toque na mercadoria.
(...) – Rose, conte para Paul a briga que você armou na aula da professora Karp.
Eu, bem atrevida, levantei a cabeça e sorri jocosamente para ele.
- Eu armei muitas brigas na aula dela.

Rose não é especialmente cativante; ela age sempre como se nada tivesse a perder, sem o menor desejo de agradar seus colegas e superiores, com impetuosidade e paixão. Desta forma, é aos poucos que ela vai conquistando o leitor – pelo menos foi assim comigo. Seu humor é irônico e às vezes até mesmo cruel; ela não reprime os pensamentos, os sentimentos e nem mesmo suas atitudes, o que lhe vale o status de jovem indisciplinada e vulgar.

O cenário desta história é a escola São Vladimir, na qual estudam e coexistem os Moroi, vampiros mortais que se alimentam do sangue de seus fornecedores, humanos viciados na endorfina secretada pela saliva destas criaturas, mas nunca os matam, e são guiados por uma ética e uma moral rígidas; e os Dampiros, como Rose, frutos do relacionamento entre humanos e os Moroi.

Não importa o que aconteça no nosso mundo, algumas verdades básicas sobre vampiros não mudam jamais. Os Moroi são vivos; os Strigoi são mortos-vivos. Os Moroi são mortais; os Strigoi se transformam em Strigoi. (...) Os Strigoi podiam transformar humanos, dampiros ou Moroi com uma só mordida. Os Moroi, tentados pela promessa de imortalidade, podiam se transformar em Strigoi por livre escolha se eles propositadamente matassem outra pessoa enquanto se alimentavam. (...) perdiam a capacidade de se conectarem com a magia de manipular os elementos e outros poderes do mundo. Era por isso que não podiam mais se expor ao sol.

Seus maiores inimigos são os Strigoi, vampiros poderosos que preservam a imortalidade consumindo o sangue dos Moroi; alguns são mortos e outros convertidos a este temível clã. Só o esforço de um número cada vez mais reduzido de guardiões dampiros pode preservar a espécie dos Moroi, da qual depende também sua sobrevivência.

Lissa e Rose são amigas de infância; ambas tiveram imediata empatia desde que se conheceram, aos 5 anos; desde então a futura guardiã assumiu a proteção da princesa. Depois de um trágico acidente que vitimou a família Dragomir, a jovem sobrevivente se torna emocionalmente instável, assume atitudes inusitadas e uma aura sombria se projeta sobre sua existência, o que leva Rose a tomar uma decisão drástica.

Lissa e eu éramos a melhor amiga uma da outra desde o jardim de infância, quando a nossa professora nos pôs em dupla para fazermos trabalhos escolares juntas. Forçar crianças de cinco anos a soletrar Vasilisa Dragomir e Rosemarie Hathaway, porém, era algo que ia além da crueldade, e nós – ou melhor, eu – respondemos à altura. Atirei meu livro na professora e a chamei de fascista canalha. Eu não sabia o que aquelas palavras significavam, mas sabia muito bem como atingir um alvo em movimento.



Disposta a tudo para proteger Lissa, uma Moroi legítima, a dampira Rose empreende uma fuga espetacular da escola. Após dois anos de clandestinidade e convivência com os humanos, elas são capturadas e levadas de volta à escola. Enquanto Lissa é obrigada a transcender seus medos e angústias, Rose se empenha nas aulas e principalmente nos treinos entre os aprendizes de guardião; seu maior objetivo é poder retomar o lugar ao lado da amiga, apta a protegê-la de seus adversários.

As duas têm que reaprender a conviver em um ambiente totalmente hierárquico, no qual a   se divide em várias panelinhas ocupadas em disputar poder e liderança sobre sua espécie, à custa de valores como amizade, lealdade e confiança. Imperam entre os grupos intrigas, falsidade, hipocrisia e terríveis pressões psicológicas.

Lissa (...) temia enfrentar mais um dia na escola, fingindo gostar de conviver com gente cujos únicos interesses eram gastar o dinheiro dos pais e debochar dos menos bonitos e menos populares. Ela também não queria ir ao baile com Aaron e vê-lo olhar o tempo todo para ela com tamanha adoração (...) quando tudo que ela sentia por ele era amizade.

Por um lado, Lissa se revela frágil demais para suportar este contexto, principalmente depois que estranhos eventos ameaçam trazer de volta antigos fantasmas do passado; de outro, ela surpreende até mesmo Rose em alguns momentos, com o uso de poderes e dons assustadores. Além do mais, a presença da morte nesta história é tão intensa que quase lhe vale o papel principal da trama, o que é muito significativo em uma narrativa voltada para o público mais jovem.

- Você foi beijada pelas sombras. Você atravessou a fronteira da Morte, passou para o outro lado e retornou. Você acha que uma coisa como essa não deixa marcas na alma?(...) Viktor Dashkov

- Mas você não é... espere. É por isso que vocês dois se entenderam tão bem. Subitamente me dei conta disso.
- Porque eu vou virar um Strigoi? – perguntou ele, sarcasticamente.
- Não... porque você também perdeu os seus pais. Tanto você quanto ela viram os próprios pais morrerem.
- Ela viu os dela morrerem. Eu vi os meus serem assassinados. (...)
- Foi como ver um exército da Morte invadir a minha casa.
Rose e Christian

Richelle Mead revela, nesta obra, o quanto a transição para o universo adulto pode ser aterrorizante, repleta de medos, angústias, inseguranças e tristezas. Mais que isso, ela mostra o quanto este momento fundamental pode até mesmo assumir um caráter traumático, principalmente no ambiente escolar e sua rígida estrutura hierárquica; há várias passagens em que estudantes socialmente inferiores são desprezados ou humilhados por uma elite.

A autora é certamente uma das melhores neste gênero; seu estilo é inteligente, engenhoso e surpreendente; a trama é cheia de reviravoltas, surpresas e imprevisibilidades; cada elemento do enredo tem um propósito maior, o qual é revelado na hora certa. Richelle tem um ‘timing’ perfeito na sua narrativa, pois em momento algum o leitor é sobrecarregado com informações excessivas e precoces; tudo é desenvolvido no contexto mais apropriado e na hora exata. Perfeito para a compreensão de uma história complexa que em nenhum instante se torna confusa.

Richelle é uma escritora norte-americana, originária da cidade de Michigan. Formada na área de educação, ela lecionou na 8ª série em Seattle até alcançar o sucesso de seu primeiro livro, Succubus Blues. A partir de então ela passa a se dedicar integralmente à literatura. Hoje ela desenvolve simultaneamente três sagas, Georgina Kincaid, Dark Swan e a direcionada ao jovem adulto, Academia de Vampiros, da qual O Beijo das Sombras é o primeiro volume.

No Brasil já foram publicados mais dois volumes, Aura Negra e Tocada pelas Sombras, ambos também editados pela Nova Fronteira. Mais três livros da série ocupam as prateleiras das livrarias norte-americanas e prometem seguir o mesmo caminho em nosso país: Blood Promise, Spirit Bound e Last Sacrifice.



Editora: Nova Fronteira

Autor: Richelle Mead

ISBN: 9788520923375

Origem: Nacional

Ano: 2009

Edição: 1

Número de páginas: 319

Acabamento: Brochura

Formato: Médio

Volume: 1

Um comentário:

  1. Uau!
    Realmente parece ser uma série bem inteligente sobre seres que muita gente gosta, mas que poucos compreendem.
    Adorei.
    Vou mesmo comprar.
    Beijos

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