sábado, 14 de janeiro de 2012

"Uma Estranha Simetria" (Audrey Niffenegger)

Oi Pessoal! Que saudades! Como perceberam, tirei um tempinho de férias para resolver outras questões. Mas estou de volta, com todo o gás rs rs rs! E vou aproveitar para falar sobre um livro bem peculiar, Uma Estranha Simetria. Esta obra realmente bagunçou minha cabeça; ainda hoje, algum tempo depois da leitura, não tenho uma opinião completamente formada sobre ele no todo, embora o final tenha me cativado de verdade. Quero muito saber a opinião de vocês, se ou quando tiverem lido este livro.
Neste livro a ordem natural das coisas é alterada, barreiras invisíveis são transpostas e uma sensação de estranhamento vai lentamente tomando conta da narrativa e do leitor. Os personagens brincam com o destino e manipulam, cada um a seu modo, os rumos da existência, como se fossem deuses.
Edie e Elspeth compõem a primeira geração de gêmeas da família Noblin. A vida de ambas é moldada por uma educação rigorosa e conservadora, especialmente na linhagem paterna. Tentando fugir deste contexto opressivo, elas criam um universo próprio, no qual é possível se rebelar, pregar peças nas pessoas e passar uma pela outra diante dos colegas.
As escolhas e atitudes das irmãs determinam o futuro de cada uma e os descaminhos desta história, assim como explicam, já na segunda metade da obra, o porquê do súbito distanciamento entre duas criaturas tão ligadas entre si que, às vezes, era impossível saber onde começava uma e terminava a outra.
(...) Robert já sabia que a vida familiar dela tinha sido infeliz: não havia ali grandes surpresas, só uma tristeza agourenta que se misturava com coisas normais de menina, jogos, a peça da escola e coisas do gênero. (...)
Eu te contei muitas histórias sobre Elspeth e eu, uma fingindo ser a outra. Mas você nunca nos viu juntas - éramos muito parecidas, muito iguais. E nos conhecíamos muito profundamente. Quando éramos jovens, tínhamos dificuldade de ver onde começava uma e terminava a outra.
Suas decisões vão afetar também o destino da segunda geração de gêmeas, Valentina e Julia, filhas de Edie e Jack, o provável pivô da separação de sua esposa e da cunhada. Vinte e um anos depois, sem que as irmãs voltem a se ver, separadas por um oceano, pois uma permanece em Londres e a outra se tornou americana, residindo agora em Chicago, um trágico evento traz o passado de volta.
Elspeth, na fase terminal de uma grave leucemia, redige um testamento no qual deixa para as sobrinhas o apartamento no qual morava, com toda a mobília e seus objetos de estimação, inclusive a cama em que dormia com a irmã durante a infância. De sua janela é possível admirar a paisagem majestosa do cemitério de Highgate, em Londres.
Valentina e Julia nunca estiveram em Londres, e jamais deixaram os Estados Unidos. Elas sempre viveram ao lado dos pais em um subúrbio de Chicago. Uma profunda ligação as acompanha desde o útero materno. Enquanto a primeira é frágil, delicada, dependente e insegura, a outra é independente, forte, determinada, corajosa e autoritária.
(...) elas pareciam estranhas em qualquer lugar. (...) O que tornava as gêmeas tão peculiares era difícil de definir. As pessoas ficavam pouco à vontade quando as viam juntas, sem saber exatamente a razão. As gêmeas não eram simplesmente idênticas: eram imagens espelhadas. Esse espelhamento não se limitava à aparência, mas envolvia cada célula de seus corpos. (...) Enquanto os órgãos de Julia se distribuíam da forma convencional, os de Valentina estavam invertidos.
Julia domina Valentina e acredita ter sobre ela um direito de posse maior que o da própria mãe. De seu ponto de vista, a irmã morreria se ela não a protegesse e determinasse seu futuro. Para a jovem, é impossível realizar qualquer coisa sem a companhia de sua gêmea.
Por esta razão, ambas ainda são virgens, apesar de já estarem completando vinte e um anos, e ainda não definiram suas escolhas profissionais, pois para Julia elas têm que seguir a mesma carreira, e até então não foi possível encontrar algo em comum entre as duas nesta esfera. Valentina adora moda e a irmã ainda não sabe o que quer para sua vida.
Julia se empolga com a ideia de viver em Londres, enquanto Valentina sente um desejo irresistível de permanecer em sua terra natal. Elspeth, por sua vez, determina que as gêmeas só tenham a propriedade do apartamento após viverem aí durante um ano, e durante este período os pais das jovens não poderão entrar em sua antiga residência. Um estranho segredo do passado paira sobre a família, e as jovens, que até então desconheciam a existência de uma tia, gêmea de sua mãe, estão determinadas a descobrir o que provocou a ruptura entre ambas.
O que elas não sabem é que o espírito de Elspeth permanece prisioneiro em seu apartamento, e fará de tudo para entrar em contato com elas e com seu grande amor, Robert. Por ironia do destino, Valentina e o ex-amante de sua tia acabam se envolvendo, apesar da diferença de idade.
A princípio, ela simplesmente vagara pelo apartamento. Tinha pouca energia e passava muito tempo contemplando seus antigos bens. Cochilava e acordava de novo horas, talvez dias depois - não sabia dizer e não importava. Ela não tinha forma e passava tardes inteiras rolando pelo chão em busca de um pedacinho de luz do sol, deixando que ele aquecesse todas as partículas de si como se ela fosse feita de ar, para que ela subisse e descesse, aquecida e refrescada.
Este relacionamento provoca uma séria crise de ciúmes em Julia, que vê em Robert alguém prestes a separá-la de sua irmã, e em Elspeth, que, apesar de estar morta, não consegue se desprender do sentimento que nutre por seu antigo companheiro. Sentindo-se só, Julia se aproxima de Martin, o vizinho do andar de cima, vítima de um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) que o mantém preso em seu apartamento e provoca a partida de sua esposa, Marijke.
Estas aproximações e distâncias vão culminar em um inusitado triângulo amoroso envolvendo vivos, mortos, felinos e eventos do passado que voltam para assombrar o presente e, assim, determinam um desfecho surpreendente e inesperado. Esta complexa trama enfoca questões simétricas de várias espécies, desde as cultivadas por Martin no auge de suas crises, até as simetrias físicas e emocionais das gêmeas – os órgãos de Valentina ocupam posições inversas em relação aos de Julia; até mesmo seu coração está no lado oposto do peito.
Muitos dos rituais de lavagem e cuidados de Martin eram organizados em torno da noção de simetria: uma passada do barbeador do lado esquerdo exigia outra, idêntica, do direito. (...) Completude: quando fazia tudo certo, Martin obtinha a satisfação (fugaz) de uma série de movimentos, tarefas, números, lavagens, pesamentos, não pensamentos. Mas não era bom sentir-se satisfeito demais. A ideia não era fazer algo para se agradar, mas para evitar um desastre.
As experiências e vivências da gêmea no apartamento de Elspeth, especialmente as que se referem à morte, não somente pela presença ostensiva do Cemitério, mas também por seus questionamentos e desejos interiores e pela convivência com o espírito da tia, transformarão radicalmente a vida de ambas; nenhuma delas será mais a mesma após o prazo final estabelecido pelo testamento.
A autora cria uma história eletrizante, repleta de surpresas, impossível de se deixar de lado antes do final imprevisto, e na qual mais uma vez está presente a transcendência das diretrizes naturais, como em seu livro de estreia, A Mulher do Viajante no Tempo, que deu origem a uma versão cinematográfica lançada em 2009 e intitulada Te Amarei para Sempre.
Para compor esta narrativa ela realizou pesquisas exaustivas sobre o cenário que protagoniza, de certa forma, o enredo. Audrey viveu em Londres durante a etapa investigatória, e ao longo deste tempo ela atuou como guia no cemitério Highgate, o que lhe confere a autoridade necessária para discorrer sobre as histórias que envolvem esta instituição, as oficiais e as não convencionais.
(...) havia só o próprio cemitério esparramado ao luar, como uma alucinação em suaves tons de cinza, um desvario de melancolia vitoriana talhado em pedra. (...)
Ao combinarem reforma higiênica e inovação com consciência de classe, os vitorianos haviam criado o cemitério Highgate como um teatro para o luto, um cenário para o descanso eterno.
Audrey Niffenegger nasceu em South Haven, Michigan, no dia 13 de junho de 1963. Artista plástica, ela é autora também de duas obras ilustradas, The Three Incestuous Sisters e The Adventuress. Atualmente ela reside em Chicago. A escritora tem hoje um carinho especial por Highgate, e sempre que está em Londres visita o cemitério.

Editora Objetiva, 2011

Autor: Audrey Niffenegger

ISBN: 978-85-60280-79-7

Origem: Nacional

Edição: 1

359 Páginas

Preço: R$ 34,30

Capa: Brochura

Formato: Médio

Um comentário:

  1. Adorei todas as palavras que você colocou ao falar sobre o livro. Infelizmente, não tenho muita vontade de ler porque não gostei muito de A Mulher do Viajante no Tempo da mesma autora.
    Beijos

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